A menina dos olhos de água

'Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes! E eu acreditava. Acreditava porque ao teu lado todas as coisas eram possíveis'

18 março, 2009

a luz do amor. [e a forma de dizer até qualquer dia]


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É noite já. O rádio não pára de suspirar a voz quente do fadista. ‘Ando na vida à procura de uma noite menos escura que me traga o luar do céu. De uma noite menos fria em que não sinta a agonia de um dia a mais que morreu’. Volto a ouvi-lo agora que conto o tempo para o teu regresso. O calendário que não tenho diz-me que falta apenas um dia. Mas a saudade arrasta os minutos e inventa o sono para eu atravessar a escuridão mais depressa. Como quando ainda não tinha cruzado a Europa para acabar nos teus braços naquela noite quente de Verão. Ouvia este mesmo CD todas as noites, a janela aberta como agora, e o cruzar de dedos para que a noite voasse só para eu te encontrar em mais uma carta na manhã seguinte. Começavam então, precisamente aí, as noites menos escuras.
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[porque elas, as tais noites menos escuras, são vividas fora deste ecrã de computador, esta é também uma forma de dizer que este blog termina aqui, com uma música que me há-de provocar sempre vontade de fugir para os teus braços. porque ao teu lado todas as coisas são possíveis]

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23 fevereiro, 2009

o teu corpo a minha casa

lina scheynius


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se soubesses, amor, que quando me despes à noite não me deixas mais nua do que ando todos os dias, a todas as horas, desde que te conheci. que trago o coração destapado, indefeso, e que por isso corro atrás de ti na estação de comboios, nas ruas da cidade, na sala da casa. tu a fingires que foges de mim, o corpo a exagerar os gestos, quase em câmara lenta. e eu a rir. e nós a rirmo-nos. e os problemas todos de repente esquecidos, atirados para uma outra dimensão. como quando eu chego à cama, tu enrolado como um bebé, eu a deitar-me e tu a puxares-me para ti. a tua cabeça encostada à minha, os teus braços a prenderem-me, eu a medir a tua respiração e a desejar parar todos os relógios do mundo. se soubesses que o teu corpo é a minha casa e que me pergunto todos os dias por que te amo e que todos os dias encontro mil razões diferentes. que quando olho para os outros casais no metro, no comboio, no café, no centro comercial, no restaurante, em fotografias e em filmes sinto pena deles por não serem nem metade felizes do que aquilo que eu sou contigo.
se soubesses que a um gesto teu, um gesto apenas, era capaz de roubar todas as flores do mundo, invadir os oceanos, capturar todos os peixes, prender todos os pássaros e construir um jardim na tua varanda. só, juro, para te ver sorrir.

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10 fevereiro, 2009

Como se constrói o amor entre almofadas

Photobucket
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a felicidade, meu amor, tem a temperatura do teu colo.
a chuva a fechar a noite, os cobertores a aquecerem-nos o coração, o meu cansaço, a tua mão no meu cabelo. o mar podia entrar agora pelo chão da sala, invadir o sofá, que nem assim eu acordaria.
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08 fevereiro, 2009

Te amaré


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[Silvio Rodriguez]
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04 fevereiro, 2009

O milagre do sol ou do esticar do tempo. Tu.

jola bakoniuk
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há muito que a hora de jantar já passou, por isso eu na sala escura, a janela preferida da casa aberta porque a chuva cai com força lá fora. parece destruir tudo. costumava gostar desta janela em dias assim, sentia-me feliz ao ver a água a cair no muro baixo em frente, ao imaginar o mar bravo atrás, perto. hoje sinto-me cansada deste Inverno. sinto falta do sol, dos dias compridos, das noites quentes, do tempo que não escasseava, como não escasseava o entusiamo. das tardes de Agosto que passei contigo. de uma em especial, a primeira.
eram umas duas e meia da tarde de um dia quente quando me foste apanhar à estação. lembro-me que chegaste uns minutos atrasado e logo o telemóvel a tocar e tu a pedires desculpa. eu a dizer não faz mal. e não fazia. dava-me tempo para respirar. para pensar nas exactas palavras que te diria quando te visse. depois chegaste, vi-te, entrei no carro e beijaste-me. e eu e o meu vestido vermelho sem saber o que dizer e o que fazer, apesar de tudo pensado, bem medido, planeado. mais tarde veio o jardim, uma ou duas exposições, tu a dizeres que a nossa casa seria tão cor-de-rosa como a de uma fotografia que lá estava. a nossa casa. eu só a ouvir a nossa casa. e a rir-me. meu deus, como me fazias rir! e a pensar que de certeza desaparecerias nos próximos dias, já estava a ter a minha dose de felicidade. depois abraçavas-me em todos os cantos, ainda mais quando estávamos sozinhos. parecíamos dois adolescentes. temos que sair daqui, fartávamo-nos de repetir. e entretanto contavas histórias das tuas viagens e eu pensava que gostava de te ter conhecido desde sempre, saber de todos os teus passos, como era a tua voz em criança, a que brincavas no jardim da escola, quantos gafanhotos apanhaste, se tiveste medo do escuro e se te escondias como eu dentro de um guarda-fatos velho à procura de aranhas. e, aos ouvires as minhas, fingias ficar horrorizado com as galinhas que depenei na eira da minha avó, com os pescoços cortados, os ovos tenros que comíamos depois. o teu corpo a fingir que se afastava, tu a dizeres-te assustado, para logo de seguida te aproximares. se eu ainda não te amasse na altura, teria sido aí que começaria: sob o céu azul de Agosto, bem distante já deste Inverno que por mais que eu faça, parece não se desentranhar de mim.
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28 janeiro, 2009

Não acordes antes do café da manhã ou destapas-me a vergonha

jola bakoniuk
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são quatro e meia da manhã e eu ainda acordada a ver-te dormir. a tua mão uma concha na minha perna. a minha perna apenas a minha perna. jantamos qualquer coisa que puseste no forno, delicioso como sempre. depois fomos ao cinema ver um filme da última sessão que tinha estreado. não me lembro já do nome. só de olhar para ti ao meu lado, tu a sorrires à pressa para voltares ao enredo, e eu a trincar com força o meu lábio inferior para ter a certeza que tu és verdade. depois o caminho para casa, uma música antiga no rádio, eu com vontade de dizer que também sofro de um problema de expressão, vários até, que a música é para ti ou como se fosse. sobre mim. que te amo e que não sei porquê a minha língua não consegue articular as palavras. tu sereno ao lado, os teus olhos azuis a iluminar a escuridão. (aposto que não sabes por que te chamo pirilampo) a casa que começa a aparecer ao fundo. mais tarde o quarto, tu a despires-te, eu a fingir que faço o mesmo, mas antes a tentar decorar todos os sinais das tuas costas. a cor exacta de cada centímetro da tua pele. depois o pijama aos quadrados brancos e azuis a cobrir-te o corpo. um rasgão na manga. e tu na minha cama. tu na minha cama. e eu sem saber o que fazer da música que me enche a cabeça e das flores que me querem nascer da boca mas não conseguem. muito menos da vontade de te decorar. de modo que continuo acordada às quatro e meia da manhã, com as minhas mãos no teu rosto na breve esperança de que estejas a sonhar comigo a contar-te do muito amor que te tenho.
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27 janeiro, 2009

You smell good, like home

Helen Breznik
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"não há uma forma fácil de dizer isto, por isso vou dizê-lo sem rodeios: conheci uma pessoa. foi um acidente, não estava à procura disto. uma autêntica tempestade. ela disse qualquer coisa, eu respondi. depois lembro-me de querer passar o resto da minha vida dentro daquela conversa. talvez ela seja a mulher da minha vida. pelo menos é completamente louca e está sempre a fazer-me rir. (...) essa pessoa és tu. (...) não sei o que nos vai acontecer e não sei por que deves depositar alguma esperança em mim. mas... tu cheiras tão bem, como cheiram as casas, e fazes um café delicioso. isto tem de significar alguma coisa, certo?"
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[Californication]
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